Uma das principais portas de entrada em Cuba é Havana. À chegada, começa-se por sentir um bafo quente e húmido que nos provoca um suor permanente. É quase um choque. No aeroporto para além dos operadores turísticos, curiosos concentram-se e agitam-se, sem palavras de ordem nem rostos revoltados, trazem um sorriso hospitaleiro e vontade de receber um gorjeta. Havana é uma cidade intensa, vivem aqui mais de 2,5 milhões de cubanos. Em todos os finais de tarde é tradição disparar um tiro de canhão no castelo El Morro, para avisar os havaneses que é hora de fechar as portas da cidade para evitar a entrada de piratas.

       

Bastará um leve fechar de olhos para imaginar os Chevys e os Cadillacs reluzentes parados à porta do Gran Teatro de La Habana, trazendo mulheres luxuosamente vestidas, e o que seria a Havana americana, quando o Casino do Hotel Nacional servia de sede ao irmão de Lucky Marciano, um mafioso conhecido mundialmente. E ainda o Hotel Sevilha, de onde os Batistti, controlavam o negócio da heroína e do jogo em Cuba. Todo este estilo mundano foi exterminado por Fidel, o mesmo político que criou a “Habana revolucionaria” onde comer um gelado na Copélia (gelataria mais fina e única da cidade) significa degustar os melhores gelados do mundo. Em Havana são inúmeros os lugares marcados pela história: La Floridita onde Ernest Hemingway costumava conversar com os amigos e onde ele mesmo inventou os “daiquiris”, bebida obrigatória para quem visita o país. O Granma, o barco que Fidel utilizou para aportar na Ilha e desencadear a revolução comunista que o levou ao poder. As fábricas de charutos, o imponente Capitólio, replica do de Washington é majestoso e transmite um ar de celebridade à zona “Vieja” de Havana.

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Facilmente se percebe que Cuba parou no tempo, os carros nunca morrem, mesmo quando faltam peças alguém as “inventa”.Não existe publicidade apenas propaganda política “Che, tu ejemplo VIVE tu ideas perduran” ou “Hasta la victoria siempre”. À noite as ruas são pouco iluminadas. Faltam os néons e as montras iluminadas. A marginal de Malecón com mais de 7 km é o monumento do povo, onde em noites claras se consegue avistar as luzes de Miami e onde os havaneses se despedem todos os dias do Sol.

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Neste país há mais de 11 milhões de pessoas que sofrem, de sorriso aberto para o futuro sem esconderem a sua simpatia para com o “comandante Fidel”, ou até a sua ira contra o mesmo governante que lhe dá um ordenado equivalente a 15 dólares, saúde e educação grátis. Cuba está à espera, e como se lê nos cartazes marxistas espalhados ao longo da estrada “ La revolución continua”(rá) após Fidel?.

Editado no Jornal Diário Regional de Viseu,
em 10 de Agosto de 2007