“Temos passageiros que se deslocam a Faro para apanharem voos para a Alemanha a preço inferiores a 80 euros” – Paulo Coelho

Publicado a 14 Maio 2007 14:09 por Sérgio Bastos em Entrevistas no blog www.lowcostportugal.net

Agência de viagens e “low cost” são compatíveis? Fora das grandes urbes do litoral, haverá procura por vôos baixo custo? O que pensam os profissionais de venda sobre a nova lei que obriga à apresentação do valor total da passagem aérea será uma mais valia para todos os vectores do sector turístico? “Low cost” dimensiona o turismo português?

Estas e outras preocupações serviram de mote a mais uma entrevista do lowcostportugal.net. Escolhido desta vez foi Paulo Coelho, director da Travel Gate, agência de viagens localizada em Viseu e autor de um blog relacionado com turismo. Nos seus 35 anos, já passou por outras agências (Abreu e Mundiclasse) e tem aplicado parte do seu tempo em formação.

. Lidera a Travel Gate, uma agência de viagens em Viseu. Que percentagem representa a venda de passagens aéreas no total do seu negócio?

A venda de passagens aéreas representa quase 55% do total de volume de negócios gerados na Travel Gate. Os grandes responsáveis são o mercado “corporate”, deslocações  e programas de viagens que elaboramos à medida.

. Segundo o decreto-lei 173/2007, publicado na terça-feira passada, passa a ser obrigatório preço total nas tarifas aéreas. Que vantagens poderá trazer ao cliente? Que problemas poderá gerar ao agente de viagens?

Julgo que todos ganharão com esta nova forma de apresentar os preços. A tentativa de aliciar o cliente apresentando preços irrealistas acaba até por ser incomoda para mim como agente turístico. A Travel Gate não publicita preços nas montras, não publicita ofertas, nem disponibiliza catálogo na sua loja, publicitamos apenas o nosso valor – o serviço. Na minha opinião a guerra dos preços serve apenas para as empresas que não se conseguem diferenciar. No caso particular das companhias aéreas regulares, esta foi a forma encontrada para enfrentarem a concorrência feroz das “low cost”, para as quais não estavam preparadas.

 . Há procura por voos “low cost” na sua agência?

Sim temos uma grande procura pelos voos de baixo-custo. Somos seguramente a primeira agência de viagens na região a vender em força e sem limitações voos “low cost”. Não somos conservadores, acompanhamos o mercado europeu, nem temos tabus no sector aéreo, temos sim é respeito pelo nossos clientes, daí que procuremos sempre as melhores soluções económicas e mais vantajosas. Começamos mesmo a fazer programas à medida utilizando algumas rotas “low cost” que saem muito vantajosas aos nossos clientes. Conhecer Barcelona desde o Porto por 30 Euros + alojamento é como fazer um fim de semana em Sesimbra (achamos!).

. As “low cost” vendem-se sobretudo pelo canal internet. Encara esse facto como ameaça ou oportunidade enquanto agente de viagens?

Actualmente tem sido uma oportunidade para a Travel Gate pois os nossos clientes confiam a nós a gestão das suas viagens. A internet é uma das nossas principais ferramentas de trabalho a par do GDS (global distribution system). Sabemos há alguns anos que a tendência seria a Internet ser mais utilizada que o GDS pelos agentes de viagens.  Acreditamos que em breve os nossos clientes farão tudo pelos nossos “web sites”. Nós trataremos apenas dos clientes que querem ser aconselhados, e que valorizam o serviço personalizado.

. As “low cost” europeias têm pouco mais de 10 anos, mas têm causado modificações no mercado, fazendo com que as companhias regulares apostem sobretudo no médio e longo curso. Poderão as “low cost” ameaçar o feudo das regulares em breve?

Recordo um aluno do curso de turismo me interrogar durante uma apresentação que fiz sobre “low cost” de como iriam as companhias aéreas regulares fazer para competirem com as “low cost”? A minha resposta foi muito clara, parece que a forma encontrada é «se não os consegues vencer junta-te a eles» e referi o caso da Iberia que criou a Clickair para concorrer com a Vueling e outras companhias no mercado Europeu, concentrando-se assim no grande mercado que possuí na América Latina. Sobre o longo curso, não podemos deixar de referir que a grande pioneira deste conceito foi a Virgin criando algumas rotas para os EUA e Austrália. As ultimas noticias apontam para uma revolução total dos voos longo-cursos «A Ryanair pretende abrir uma ligação transatlântica, com viagens a partir de 10 euros… irá voar a partir das suas bases, em Londres (Stansted), Dublin e Frankfurt (Hahn), até aeroportos secundários em Nova Iorque, São Francisco, San Diego, Boston, Dallas e Florida… irá competir com os gigantes mundiais British Airways e Virgin Atlantic Airways pelas lucrativas rotas transatlânticas». Mediante este cenário é bem possível que em breve a revolução dos preços baixos chegue ao outro lado do atlântico.

. Vitor Neto – Empresário, presidente do NERA e vice-presidente da AIP – interrogava-se há dias no Diário Económico: “Porque caem as dormidas dos estrangeiros quando conhecemos o sucesso das ‘low cost’ e que o número de passageiros chegados ao Aeroporto de Faro aumentou 8%, em 2006?“. Haverá uma correlação directa entre o turismo e as “low cost” no caso português?

No meu ponto de vista este fenómeno ocorre pela presença de vários factores, e não por nenhum em particular. Não será totalmente correcto afirmar que as causas serão as camas paralelas ou o desvio de alojamento para Espanha. A Travel Gate está sediada a mais de  600 km de Faro e temos imensos passageiros (agora menos devido à frequência das “low cost” nos aeroportos do Porto e de Lisboa) que se deslocam a Faro para apanharem voos para a Alemanha (por exemplo) a preço inferiores a 80 euros. Mesmo com quase 8 horas de ligação até Faro é compensatório este sacrifício.

Outro aspecto a reter é que quem viaja nas “low cost” não são só turistas mas sim novos-passageiros e passageiros retirados às companhias aéreas regulares.
Novos-passageiros porque dificilmente viajariam se os preços não fossem tão baixos. Na última vez que passei pelo aeroporto de Lisboa verifiquei isso mesmo, a área de check-in dos voos “low cost” estava repleta e acho que não vi muitos estrangeiros. Por último, sabemos que os nossos emigrantes que se encontram por toda a Europa deixaram de trazer carro para passarem as suas férias. As rotas mais rentáveis são aquelas onde existe uma grande concentração de portugueses: todas as cidades da Alemanha, Suíça, França e Inglaterra são as mais relevantes. É mais económico optarem por um voo “low cost” e alugar um carro no aeroporto, sector tambem que muito cresceu graças a este fenómeno.